A necessária e urgente nova geração de líderes políticos

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Durante o atual quadro de pandemia, temos a consolidação de alguns processos sociais e políticos e o palco privilegiado de observação dos mesmos. Enquanto alguns exercícios de futurologia anunciam a máxima de que “a sociedade não será mais a mesma”, podemos constatar essas mudanças com base em fatos ocorridos no passado.

O que já vem sendo chamado de “capitalismo digital” toma forma definitiva com a conversão de inúmeras atividades que exigiam presença física em atividades digitais ou on-line, ou ainda como diz a linguagem sci-fi “as máquinas assumiram o controle”. Graças ao vírus, nunca houve tanta gente utilizando as novas tecnologias digitais para trabalhar, se comunicar e se divertir, pesquisar as soluções para a pandemia e produzir insumos sanitários e até alimentos.

Enquanto isso, algumas necessidades de mudança reveladas nessa década permanecem sem uma resposta consolidada e a mais perceptível e urgente é a de um novo perfil de líder político. Apesar de ser uma onda mundial, especificamente no Brasil essa necessidade tem se materializado com a mudança de perfil dos cidadãos, que começaram a ir às ruas protestar contra corrupção, condutas antidemocráticas, gestões públicas que não conseguem dar uma resposta aos problemas e necessidades sociais, os altos índices de abstenção eleitoral como forma de protesto mais “sutil” e, por fim, os altos índices de desconfiança política frente às instituições representativas e aos políticos em geral.

Nesse momento a demanda por líderes políticos responsivos, ou seja, aqueles que dialogam com os cidadãos que representam e demonstram capacidade de atender às suas expectativas e demandas com ações e respostas concretas, revela-se uma máxima. A desconexão entre o que os cidadãos querem e precisam e a postura de boa parte dos líderes políticos em atividade torna-se concreta ao observarmos a distância entre os discursos presentes na pandemia e a realidade do que vem sendo enfrentada nas diferentes regiões do país. Achei por bem enumerar alguns a título de ilustração e reflexão:

  • O isolamento social é a única medida possível (e eficaz) para enfrentar a pandemia: Há pessoas para as quais a dimensão do particular sequer existe. Alguns não têm casa, outros não têm quartos nas casas e muitos não tem condições materiais para seguir a máxima do distanciamento social. Em uma sociedade que não tem cultura de investimentos financeiros ou poupança de emergência (mesmo os que têm melhor condição) enfrentar um tempo prolongado de ausência de atividade econômica é um grande desafio.
  • Temos que evitar o colapso do sistema de saúde: O colapso do SUS é uma tragédia anunciada há décadas, acredito até que o quadro anterior já era o colapso em si. Quem não se lembra das reportagens recorrentes que apresentam médicos desiludidos e impotentes com a falta de medicamentos básicos? Ou as inúmeras macas em corredores e pacientes no chão? Ou ainda pacientes recusados por falta de leitos? A pandemia não trouxe a deficiência de atendimento na saúde pública, ela apenas jogou sobre ele um grande holofote.
  • As pessoas precisam ter consciência individual e adotar medidas sanitárias: na maioria das cidades brasileiras, quase metade da população não tem saneamento básico. Como o nome já diz, não tem o BÁSICO! E isso não é apenas em periferias, há bairros de classe média em várias cidades onde a taxa de saneamento básico é cobrada nas contas de água, mas ele efetivamente não existe. Lavar as mãos pode até proteger individualmente, mas e as demais doenças que já existiam antes da pandemia?

Esses exemplos permitem que tenhamos a exata noção de que a vontade política não tem ido ao encontro da realidade social. Um perfil de líder político que não ouve e não responde não terá mais lugar nesse imediato futuro pós-pandemia. As pessoas não esperam mais até a próxima eleição para rejeitar o líder político, a tecnologia está aí para permitir a expressão de descontentamento em tempo real e minar a legitimidade daquele mandato, tirando-lhe o poder.

As pessoas não aderem ao isolamento? Isso é só o começo, se os “novos” líderes políticos não forem capazes de retomar a confiança dos cidadãos com ações concretas que estejam de acordo com seus discursos, não haverá medida que tenha sucesso, nem na pandemia e nem no futuro.

 

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