Estava essa semana em uma reunião e ao acompanhar um pequeno debate, um dos participantes disse: “Vamos concordar em discordar!”. Essa expressão me chamou a atenção, pois apesar de conhecê-la não se ouve muito por aí, em especial nos tempos atuais, nos quais a concordância e/ou a tolerância com o ponto de vista alheio anda meio rara.
Estamos caminhando para mais um período eleitoral e dessa vez parece que teremos que inventar uma palavra para descrever os acontecimentos que virão, porque “caos” parece ser insuficiente. Temos a geração mais conectada dos últimos tempos. Mas conectada a quê? Com quem? Por quê? Essas são questões centrais que a avalanche de informações que nos sobrecarregam todos os dias não nos permite refletir adequadamente.
Pois bem, esse espaço é para isso, para darmos um pause na velocidade das coisas e dar um play no modo reflexivo, achar o significado das coisas. Nossos jovens nasceram digitais e com isso, foram crescendo em um verdadeiro furação onde a mecânica das relações muito virtuais não dão conta de absorver as necessidades humanas de contato, referência, valores, conexão, pertencimento e etc. Redes sociais dão uma falsa noção de amizade, de estilo de vida, de ideias e posicionamentos definidos por ondas de hastags e, ainda que sirvam bem ao propósito de melhorar a comunicação em longas distâncias, comunicar, selecionar fatos, também adormecem as pessoas em relações líquidas (tais quais descritas no conceito de Bauman) e ninguém está imune.
Esses jovens que nasceram nesse universo, se adaptaram à tecnologia, tentam compreender o mundo, achar sua voz, influenciar e pertencer, estão também entrando no mundo da política com uma noção de cidadania muitas vezes resumida a protestos virtuais ou reais que funcionam muito bem à lógica da multidão (que é destrutiva) e seu desejo de mudança pode acabar sendo manejado para embates que obedecem a interesses pouco democráticos. Cidadania é constituída de duas partes igualmente importantes que são Direitos e Deveres. Muitos direitos sem preocupação com os deveres gera uma sociedade de “clientes” na qual a máxima “o cliente tem sempre razão” impera. Mas se eu tenho sempre razão…como ou para que vou considerar a opinião, o interesse ou a necessidade do outro? Muitos deveres sem direitos geram uma sociedade engessada e basicamente submissa a interesses particulares.
Nenhum dos dois cenários combina com democracia, com política ou com a forma saudável de uma sociedade. É necessário que resgatemos a conexão com a realidade, em especial a realidade social e política do nosso entorno e, aqui não falo apenas dos jovens pois muitas pessoas das gerações anteriores também se deixaram absorver pela lógica 24/07 onde a conexão é tudo e se não foi postado não existiu.
Precisamos nos conectar com nossos direitos e deveres, discutir valores, pensar sobre nosso papel na sociedade e no mundo para que a conexão real entre o mundo que temos e o que queremos possa se estabelecer. Assim mudança e evolução são possíveis e essa tempestade para a qual somos sugados em cada ano eleitoral possa representar de fato o momento em que escolhemos nossos representantes, aqueles que podem (e devem) defender os interesses da sociedade, dos grupos e de uma visão de futuro.
Escolher o “menos pior” para mim não é escolha, é admissão de fracasso e só nos leva a andar em círculos. Vamos fazer nossa parte na conexão que nos cabe!