Grupo de Dois lança Curta-Metragem “Pra Sair de Casa”
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Contemplado no Edital Arte Livre /Secult-CE da Lei Aldir Blanc, o projeto do Curta Metragem “Pra Sair de Casa” conta com a atuação de Júlia Sarmento e roteiro de Tiago Fortes. O curta terá lançamento online pela plataforma do Grupo de Dois no Youtube nos dias 12 e 13 de março.
Numa Fortaleza fantástica, uma mulher tem sérios problemas ao vestir um pulôver pra sair de casa. Livremente inspirado no conto Ninguém Seja Culpado, do contista argentino Júlio Cortázar, o curta-metragem “Pra Sair de Casa” surge do interesse do Grupo de Dois em dar visualidade à literatura contista de Cortázar, ao estudo da linguagem cômica da palhaça e à necessidade de falar sobre isolamento e reclusão diante da emergência sanitária provocada pelo COVID-19.
As produções teatrais do Grupo de Dois, iniciadas no início do mês de fevereiro, num primeiro momento no Rio de Janeiro e agora em Fortaleza, buscam investigar desde 2006, formas de transformar literatura em teatro a partir de dispositivos contemporâneos e cruzamento de linguagens. Para esse projeto, foi realizada uma parceria com o cineasta Pedro Henrique para, com a ajuda do cinema, explorar o clima ambiguamente mórbido e cômico do conto de Cortázar, sem perder seu caráter intimista.
Júlia Sarmento é Mestre em Artes pelo Programa de Pós-Graduação em Artes da Universidade Federal do Ceará /UFC. Formada pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro / UNIRIO nos cursos de Bacharelado em Interpretação e Licenciatura Plena em Artes Cênicas, ao longo de 24 anos de carreira, trabalhou com artistas como Amir Haddad, Moacir Chaves e Fabianna de Mello e Souza, participou de cursos com Stephanie Brodt, Grupo Moitará, Odin Theater, Lume Teatro, João Fiadeiro, Andréia Jabor, Tadashi Endo, Léo Bassi etc.
Acumula vasta experiência como professora em escolas e centros culturais no Rio de Janeiro. Desde 2006 forma com o ator, professor e diretor Tiago Fortes o Grupo de Dois, que pretende unir filosofia ao teatro, tendo realizado dois espetáculos e uma performance no Rio de Janeiro e em Fortaleza. Como pesquisadora acadêmica, investigou por sete anos (2002 a 2009) a formação do palhaço para ambientes hospitalares no Programa Enfermaria do Riso; e seis anos no grupo Mulheres de Artaud (2001 a 2006) onde pesquisou a linguagem do Teatro da Crueldade de Antonin Artaud.
Desde 2013 vem desenvolvendo pesquisa sobre o Rasaboxes, treinamento para atores e performers criado nos Estados Unidos e ainda pouco conhecido no Brasil. Ao se mudar para Fortaleza em 2010, integrou a Cia. Vatá como bailarina e dramaturgista sob o comando da coreógrafa Valéria Pinheiro. Atuou como professora de consciência corporal no curso de Belas Artes da Universidade de Fortaleza / UNIFOR, e foi coordenadora de Cultura e Arte, na área de formação, do CUCA Che Guevara entre 2011 e 2012. Ao longo de todo esse tempo vem realizando tutorias, orientações, direções artísticas, cursos e oficinas de Palhaço, máscaras e Rasaboxes em Fortaleza, Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba.
Ninguém seja culpado, conto do escritor argentino Julio Cortázar, é inspiração para a realização de um número de palhaça. Kassandra pretende sair de casa mas faz frio e ela precisa colocar um pulôver. Por ser uma palhaça tropical, Kassandra não tem o hábito de vestir roupas de inverno e por aí começam seus problemas. Através da narrativa bem-humorada e um pouco sinistra de Cortázar, Kassandra vai se perdendo dentro do pulôver até o desespero. Seu corpo vai, aos poucos, se voltando contra ela e num final quase surreal, a palhaça é atacada por sua própria mão.
Ninguém seja culpado é uma reflexão sobre os gestos cotidianos e como eles podem ser reveladores de nossa condição no mundo. Os aspectos mais mundanos de nossas vidas têm o poder de revelar nossas maiores fragilidades e fortalezas. O ato banal de colocar um casaco leva o personagem de Cortázar aos limites da loucura e do paroxismo de seu próprio corpo. O personagem, ao querer sair de casa, acaba enredado em sua incapacidade de lidar com um problema simples. Nada mais cômico. Nada mais próximo de nossas realidades, onde um vírus invisível nos constrange e assusta, onde uma máscara incômoda virou item do vestuário e onde um gesto simples como um aperto de mão ou um abraço representam perigo para a saúde de todos.