O ano eleitoral e nossa cidadania deficiente

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Olá meus caros internautas, estamos na semana do meu aniversário, mais precisamente depois de amanhã e, na habitual temporada reflexiva que vem com a mudança de idade, estive desde o último post pensando em falar com vocês essa semana sobre meu tema preferido na área da política. Pois bem, nem preciso dizer que foi uma péssima ideia, pois dentro da minha área de concentração em pesquisa, encontam-se teoria democrática, relação entre mídia e política, comportamento político. O que por si só já engloba vários subtemas, acrescido a isso os temas que despertam curiosidade, rs.

Mas no apagar das luzes da segunda feira (meu dia favorito para a criatividade) consegui escolher um, vamos conversar sobre o ano eleitoral, afinal estamos no começo dele e é provável que falemos de eleições mais algumas vezes, sob diferentes ângulos ao longo do ano (e eu adoro eleições, é onde a política ganha vida).

Hoje, no entanto, falarei sobre a importância da cidadania ativa, de estarmos atentos aos movimentos eleitorais e qual nosso papel nisso. Afinal, por que precisamos prestar atenção ao ano eleitoral? A resposta parece óbvia, mas não é simples assim, é? Não, não, não…votar é a atividade final do processo, antes de chegarmos lá precisamos pensar um pouco onde estamos: O que mudou desde a última eleição? O candidato em quem votei teve que tipo de desempenho? Votei consciente, indignado ou sem esperança? Em que meu voto (ou a ausência dele) contribuiu com a mudança social?

Sabe por que te pergunto isso? Por que você e eu, como cidadãos temos a responsabilidade sobre a condução da política e da sociedade, sabia? Somos adultos e responsáveis pelas nossas ações, ser cidadão inclui direitos e DEVERES, lembra? Temos o direito de escolher nossos representantes, mas junto com esse direito vem também o dever de escolher (sim, escolher é um direito e um dever) e ainda o de fiscalizar as ações desses representantes. Você achou que estava ok ir lá votar no primo do amigo, no dono da padaria, no cara que ofereceu alguma vantagem sem prestar atenção na fala deles, nas propostas, nas ações e depois culpá-los por não agir de acordo com suas expectativas?

Ocorre que, em nossa cultura política, a cidadania vem sendo resumida há décadas ao status de direito, como se fôssemos clientes de um serviço de concierge chamado Estado. Sou cidadão, portanto portador de direitos! Ok, temos direitos como cidadãos, direitos sociais e políticos, mas…o que ninguém te conta é que cidadania é o conjunto de direitos + deveres, é a combinação de liberdade com participação e implica ação, ação diante das questões da sociedade e que regem o ambiente no qual vivemos e nos desenvolvemos. Com frequência se exige participação política, legislação inclusiva, funcionamento das instituições públicas, auxílio do Estado, etc., mas o que de fato eu venho fazendo para ostentar o título de cidadão? A pessoa sonega imposto, reclama de pagar o salário do funcionário, joga lixo na rua, burla o serviço militar, paga funcionários corruptos para passar na frente da fila de saúde pública. Isso acontece por que temos a visão distorcida de que a política é um favor, algo que nos é dado, concedido. Visão herdada dos “donos do poder” e da formação histórico-política brasileira baseada na relação simbiótica entre o público e o privado.

Muito direito sem dever cria cidadãos irresponsáveis com a sociedade, “são os políticos que não prestam” e eu “não tenho nada com isso”. O mecanismo eleitoral pressupõe autorização, isso significa que você, ao ir lá na urna, está autorizando aquela pessoa a tomar decisões por você. E se você não se importa com isso ou em quem está votando, pode mesmo reclamar das decisões tomadas? Se você não se informa ou fiscaliza, pode mesmo dizer que “os políticos não prestam”? Quando você vai lá votar você escolhe retirar o poder daquela pessoa ou renovar essa concessão.

Estou chamando sua atenção para isso logo agora no início do ano por que sempre há um zumbido nas cidades em ano eleitoral. Quem vai se candidatar, quem vai ser apoiado por quem, que vai ser vice de quem. Se você diminuir o volume dos barulhos do dia a dia, da avalanche de “notícias” inúteis e prestar atenção nas questões importantes que estão acontecendo na cidade, pode ouvir a frequência dos assuntos políticos e começar a acompanhar os movimentos dessas peças do jogo. Esse é o seu dever como cidadão, participar! Está bem na hora de a gente usar nosso poder, a tecnologia e a informação para mudar o que não nos serve mais enquanto sociedade, melhorar o que vem funcionando e, sobretudo, mudar nossa atitude frente à política. Não existe “nós” e “eles”, a política é do domínio de todos, é exercida por todos e impacta na vida de todos.

E devemos conversar sobre isso, eu sei que o debate político é acalorado, mas devemos exercitá-lo, ouvir os diferentes pontos de vista. Não é necessário concordar, mas é sinal de inteligência ouvir, refletir e respeitar as diversas opiniões, ok? Você pode mudar de opinião ou permanecer com a sua, é legítimo, só não vale ficar reproduzindo discurso como a multidão acéfala, já falamos sobre isso semana passada. Não podemos esquecer que a cidadania foi e é uma conquista, nem sempre a tivemos de forma plena e em alguns lugares do mundo muitos não a tem. Vamos exercitar essa conquista na correta acepção da palavra cidadania, com direitos e deveres.

Boa semana e até a próxima!

 

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