O Domínio da Linguagem e do Mundo

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Informação é poder! Essa é uma frase bem conhecida e foi imperativa por décadas. Mas no advento da era digital e sob o domínio das redes sociais, nas quais a informação pode ser acessada e produzida por qualquer um, essa sentença precisa de atualização.

Digo para vocês meus caros internautas, é no domínio da linguagem que encontramos o poder. De fato, em teoria temos os chamados tipos puros de poder, são eles a força, o código ou tradição, a mensagem e a recompensa, que encontram-se na aplicação real combinados entre si e em vários níveis. A frase “Informação é poder!” encontra-se no tipo de poder relacionado à mensagem, de onde se destacam os meio de comunicação e, em especial a comunicação publicitária. É a capacidade de convencer o outro a fazer algo ou aceitar certas ideias, é o domínio da percepção.

Portanto, se meu objetivo é convencer eu preciso usar códigos linguísticos (e neurolinguísticos) a fim de associar palavras à ações. Darei um exemplo prático interessante: destinação de cotas partidárias para mulheres. Já ouviram falar? É amplamente difundido em conversas setoriais, na mídia, no ambiente partidário e político que deve ser destinado 30% da cota partidária a candidaturas de mulheres, ok? Agora, o que ninguém te conta é que a lei fala de “sexo” (relativo a gênero) e não de “mulheres”!!!! No artigo 10, parágrafo 3° da Lei 9.504/97[1], a Lei das Eleições, o texto refere-se da seguinte forma: “cada partido ou coligação preencherá o mínimo de 30% (trinta por cento) e o máximo de 70% (setenta por cento) para candidaturas de cada sexo”. Na realidade poderiam ser 30% de candidaturas masculinas e 70% femininas e, digo mais, esse percentual é o mínimo, ou seja, poderíamos ter qualquer valor entre 30% e 70% para cada sexo.

Percebem como a informação é diferente da linguagem na qual ela é difundida? Uma olhada mais reflexiva permite auferir a correlação de forças. Seria correto dizer que não se alcança a cota por que as mulheres não querem se candidatar? (já ouvi muito esse argumento, acredite). Ou essas candidaturas seriam desencorajadas por uma percepção de que sempre teriam um espaço menor? Não estou falando de conspirações, do tal patriarcado ou de um discurso vitimista de opressão a mulheres ou machismo estrutural, trata-se de algo anterior, a disputa de poder.

Como usei o exemplo bastante atual das mulheres, continuarei nele. Durante anos (inclusive nos dias de hoje) fez-se referência às mulheres nos discursos como “minoria”. Isso é dito inclusive em discursos que defendem as mulheres. Mas deixa eu te contar…só no Brasil somos 51,7 % da população. Desde 1980, a população de mulheres igualou à de homens e em 2010 superou, alcançando os 51%. Desde 2003 somos também 51% do eleitorado[2] (atualmente corresponde a 52%. Esse dado é importante, espaços de decisão política). As mulheres encontram-se também em maior número nos cursos superiores. Portanto, por que mesmo você continua acreditando que as mulheres são minoria? Percepção, mensagem e linguagem.

A desigualdade concentra-se na percepção de que as mulheres são inferiores e que estão em menor número que os homens e isso é uma questão de comportamento, portanto se sustenta no domínio subjetivo. No domínio objetivo e racional, estamos em paridade (ao menos numérica), a matemática não mente. Resta-nos voltar ao poder da mensagem e difundí-la corretamente.

A linguagem influencia a percepção da mensagem e produz poder. Comece a questionar, procure dados informativos, pense no discurso antes de reproduzí-lo, ok!

Fica a proposta para sua reflexão e fiquem à vontade para comentar.

Abraço grande!

[1] Confira em: http://www.tse.jus.br/legislacao/codigo-eleitoral/lei-das-eleicoes/lei-das-eleicoes-lei-nb0-9.504-de-30-de-setembro-de-1997.

[2] Dados do IBGE, PNAD e TRE.

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