Com a nova edição do BBB, a palavra da moda nas redes sociais é novamente “cancelamento”. Não me perguntem o que está havendo no BBB, só tive paciência de acompanhar a primeira edição lá nos idos de dois mil e alguma coisa, bem lembro mais. Mas basta acessar as redes sociais que é possível ter uma noção dos tópicos que vem sendo abordados por aqueles personagens.
Mas o que essa falação toda nos trás de bom é a oportunidade de observar e refletir mais sobre essa tal “política do cancelamento” (deixo desde já registrada minha discordância sobre o uso da palavra política nessa expressão, não cabe) que me lembra um pouco a polícia do pensamento que Orwell nos apresenta em 1984 e com certeza é um sintoma da síndrome do pensamento único (falamos sobre ela ano passado e você pode conferir no link https://www.reticencias.me/sindrome-do-pensamento-unico-voce-conhece-os-sintomas/).
Caso você ainda não saiba o que é o tal cancelamento, trata-se de uma espécie de linchamento virtual, onde uma pessoa ao expressar sua opinião é tratada como um pária e sua capacidade de se expressar ou influenciar é questionada, resultando em sua exclusão dos grupos sociais, mesmo que temporariamente.
É óbvio que não somos obrigados a conviver com algo de que não gostamos, no mundo real ou no virtual. Mas quando a gente só cancela o outro, na verdade, bloqueia a possibilidade de ver um ponto de vista diferente, de aprender algo novo e, principalmente, de reavaliar nossas posições.
Devo deixar claro que falo da opinião no geral, não me refiro ao caso específico do BBB, que já abrange muito mais do que uma opinião divergente ou controversa, já passou à expressão de preconceito e discriminação, o que não é aceitável.
O tal cancelamento visa legitimar um certo conjunto de ideias que pairam na sociedade e que, em tese, não deveriam ser questionadas sob pena de o emissor da opinião ser visto como “inimigo”, “antidemocrata”, “fascista” e etc. Algumas das opiniões até podem ser enquadradas nesses termos mas o que vemos de forma generalizada e sem fazer a devida crítica é a expressão digital de uma incapacidade de tolerar e exercitar o debate público.
É preciso separar o joio do trigo! Ataques racistas, ofensas pessoais, incitação ao crime ou violência não são liberdade de expressão e isso é tipificado em lei. Mas opiniões sobre temas sociais, posições políticas, questionamentos sobre o andamento dos governos e decisões legislativas são mais do que legítimas, são necessárias.
Uma sociedade que não pensa e não questiona é cúmplice de qualquer tipo de atrocidade ué venha a sofrer. Em meio a uma pandemia já temos que lidar com o medo da doença, o receio sobre as condições econômicas, as novas regras sociais e o dia a dia mas temos ainda que vigiar nossa democracia, nossos direitos (inclusive e principalmente o de expressão) por que esses sim correm sempre o risco de serem cancelados e isso, tal qual como o Apocalipse bíblico, pode não ocorrer com um golpe político aberto ou bolas de fogo vindas do céu.
As manobras e os sinais são mais sutis, temos que vigiar.