Estamos na era dos influencers, em bom português, influenciadores. Em sua essência essa “atividade” nasceu ligada ao consumo, como uma nova forma de alavancar vendas, mais adaptada à nova geração de consumidores que prioriza a experiência de consumo e uma relação mais estreita com as marcas. Portanto, tratava-se de mais uma ferramenta de venda.
Ao longo do tempo e da experiência com o consumidor, esse formato foi se adaptando para produzir mais substância e além do desejo, trabalhar o motivo de consumir, o comportamento desse consumidor e, óbvio, isso não demorou a entrar na seara política, nos trazendo os influencers políticos, como uma espécie de versão mais democratizada dos formadores de opinião, que no geral pertenciam a uma gama mais restrita de acadêmicos, assessores e jornalistas especializados. Os influencers políticos emitem suas opiniões e análises com o objetivo de nos fazer “consumir” posicionamentos políticos, ideias, visões de mundo, contestar padrões e exercitar nossa pretensa “liberdade” de opinião e participação política. São em essência, instrumentos de propaganda.
Você sabe o que significa propaganda? A palavra Propaganda tem origem latina, no termo original “propagare”, que designava a reprodução de plantas, relacionado à ideia de disseminar. No século XVII, o Papa Gregório XV criou uma comissão de cardeais para difundir o catolicismo em países não católicos, a que denominou de Congregação para propagar a fé. Assim o termo passou a se referir a plantar ou disseminar ideias e crenças.
Quatro séculos depois a propaganda constitui o elemento central da nossa comunicação social, aonde inúmeras ideias ou crenças chegam a nós de diversos pontos e a todo o momento, sem que muitas vezes possamos tomar consciência delas antes mesmo de incorporá-las ao nosso cotidiano ou pensamento.
Em ano eleitoral, a propaganda ganha atenção especial, pois tomamos consciência de seu uso e de suas características, sabemos quem a emite e com qual propósito, diferente muitas vezes do mundo do consumo. Na esfera política, a propaganda eleitoral tem o objetivo de ser clara e influenciar as pessoas a aderir a ideias e projetos que lhes são apresentados através de ferramentas de comunicação que buscam acessar suas esferas emocional e racional.
Para além dessa comunicação direta proporcionada pela propaganda, os influencers políticos fornecem uma “interpretação” dessas mensagens, buscando uma adesão ou uma rejeição às ideias e projetos ou à pessoa do candidato ou candidata em questão. Mas convém destacar que os influencers operam na esfera da emoção, como dissemos no início do texto, seu objetivo é acessar e modificar o comportamento das pessoas. No terreno político, as coisas não são tão simples como vender produtos, a decisão do voto beneficia ou prejudica você e uma série de pessoas, pois uma vez eleito, aquele representante é instituído do poder de representar a todos e não só quem votou nele ou nela. Não é como quando você compra aquele produto para cabelo que te deu alergia, você reclama e pede o dinheiro de volta. Ali só você foi prejudicado e ainda tem possibilidade de reparação.
No mundo da Internet, a natureza “democrática” das redes sociais permite que todos possam se colocar no papel de influencers, agora legitimados pelo número de seguidores e não necessariamente pelo conteúdo que apresentam, embora essa exigência por parte dos seguidores esteja aumentando. Em tempos de domínio das redes sociais, fake news e polarização, é importante aproveitar o período eleitoral não só para conhecer os candidatos, suas ideias e decidir seu voto, mas também para analisar que tipo de pessoas estão influenciando suas decisões, que tipo de interpretação eles fazem dos fatos, em que tipo de informação se baseiam.
É um ótimo momento para refletir, o que te influencia?