Pensar politicamente é para acadêmicos, políticos profissionais, ativistas, funcionários do governo….será? Você, como cidadã ou cidadão, não deveria pensar sobre algo que interfere diretamente na sua vida? Desde o valor do seu salário até a qualidade da educação dos seus filhos?
Bem, essa desconexão sobre a importância de pensar a política e sobre a política tem a ver com a distinção entre governantes e governados, com a ideia de que uns devem exercer o poder e os demais se submeter. Quando estudamos as tipologias do poder, aprendemos que ambas as partes tem um papel fundamental na dinâmica política, nada mais lógico que a impossibilidade de alguém exercer poder se não houver quem se submeta, seja de forma voluntária e consciente ou inconsciente. Assim, temos a essência da relação candidato/eleitor, político/cidadão.
Na cultura política brasileira, fortemente marcada pelas relações de mando e obediência herdadas de um passado colonial e escravocrata, a política é vista como um favor. Quem está no poder “faz o favor” de comandar a sociedade, fornecer serviços básicos, tomar decisões de interesse público. O cidadão pede uma “ajuda” para levar água ao sertão, conseguir um emprego para um parente, etc. Mas não é bem assim que deve ser.
Apesar de toda a evolução tecnológica e tomada de consciência das novas gerações, essa ideia de troca de favor ainda persiste, mantendo uma compreensão viciada de que a política é o terreno das vantagens, onde todos têm “direito”.
Mas onde fica o dever? Fomos acostumados com um conceito de cidadania deficiente (já conversamos sobre isso nessa coluna) no qual os direitos são supervalorizados em detrimento de nosso dever perante a sociedade. Isso afeta diretamente nosso senso de comunidade e nossa atuação política, seja como governantes, seja como governados. Você acha que aquele candidato (a) ou político (a) que está no cargo é diferente de você? Não, não é! A mesma cultura política os rege, a mesma ideia de troca de favor, de direito a estar naquela posição e, às vezes, o direito de se servir desse cargo para fins particulares e egoístas.
Não existe nós e eles! Em uma sociedade democrática, todos nós podemos nos tornar “eles” a qualquer momento e “eles” voltam a ser “nós” ao fim do mandato. Somos todos essencialmente cidadãos e, enquanto integrantes da sociedade é de nossa responsabilidade pensar como ela funciona, acompanhar as decisões que são tomadas, vigiar e punir. Sim, punir, mas não estou falando de violência física e/ou virtual, estou falando de não renovar a concessão dada pelo voto.
Existem mecanismos de participação institucionalizados que permitem a qualquer pessoa opinar sobre os assuntos políticos em discussão, desde a organização do orçamento público à formulação de políticas públicas, sabia? Você pode ouvir as argumentações, debates e votações em tevês públicas ou na internet. Você pode (e deve) acompanhar se a pessoa que você elegeu tem feito jus ao seu voto.
Aliás, você sabe o significado do voto? O ato de votar é a transferência do seu poder de decisão para outra pessoa na qual você deposita confiança. Ao votar em alguém você acredita que esse alguém tem capacidade e discernimento para decidir o que é melhor para você e sua comunidade, em conformidade com o bem-estar público. Seu voto confere legitimidade para a pessoa escolhida agir. Já pensou nisso?
Não se trata de trocar um favor, de gratidão por alguma “benesse”, de devoção ou algo do tipo. Trata-se da SUA responsabilidade com a sua vida e com as outras pessoas. A frase de Gandhi “seja a mudança que você quer ver no mundo” aplica-se perfeitamente aqui. Quer que a política mude? Mude sua atitude em relação a ela e comece a pensar politicamente.